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sábado, 26 de agosto de 2017

O FRIO QUE VEIO DE DENTRO


Seis homens ficaram bloqueados numa caverna por uma avalanche de neve. Teriam que esperar até o amanhecer para poderem receber socorro.

Cada um deles trazia um pouco de lenha e havia uma pequena fogueira ao redor da qual eles se aqueciam, se o fogo se apagasse, eles o sabiam, todos morreriam de frio antes que o dia clareasse.

Chegou a hora de cada um colocar sua lenha na

fogueira, era a única maneira de poderem sobreviver.

O primeiro homem era um racista. Ele olhou demoradamente para os outros cinco e descobriu que um deles tinha a pele escura. Então ele raciocinou consigo mesmo:

-“Aquele negro! Jamais darei minha lenha para aquecer um negro.” E guardou-as consigo, protegendo-as dos olhares dos demais.

O segundo homem era um rico avarento. Ele estava ali porque

esperava receber os juros de uma dívida. Olhou ao redor e viu no
círculo em torno do fogo bruxuleante, um homem da montanha, que trazia sua pobreza no aspecto rude do semblante e nas roupas velhas e remendadas.

Ele fez as contas do valor da sua lenha e enquanto mentalmente sonhava com seu lucro, pensou:

- “Eu, dar a minha lenha para aquecer um pobre preguiçoso?”

O terceiro homem era o negro. Seus olhos faiscavam de ira e ressentimento. Não havia qualquer sinal de perdão ou mesmo aquela superioridade moral que o sofrimento ensinava. Seu pensamento era muito prático:

- “É bem provável que eu precise desta lenha para me defender. Além disso, jamais daria minha lenha para salvar aqueles que me oprimem”. E guardou suas lenhas com cuidado.


O quarto homem era o pobre da montanha. Ele conhecia mais do que os outros os caminhos, os perigos e os segredos da neve. Ele pensou:

-“Esta nevasca pode durar vários dias. Vou guardar minha lenha.”


O quinto homem parecia alheio a tudo. 
Era um sonhador. Olhando fixamente para as brasas. Nem lhe passou pela cabeça oferecer a todos parte da lenha que carregava. Ele estava preocupado demais com suas próprias visões (ou alucinações?) para pensar em ser útil.

O último homem trazia nos vincos da testa e nas palmas das mãos calosas, os sinais de uma vida de trabalho. Seu raciocínio era curto e rápido.

-“Esta lenha é minha. Custou o meu trabalho. Não darei a ninguém, nem mesmo o menor dos gravetos”.

Com estes pensamentos, os seis homens permaneceram imóveis. A última brasa da fogueira se cobriu de cinzas e finalmente se apagou.

Ao alvorecer do dia, quando os homens do socorro chegaram à caverna encontraram seis cadáveres congelados. Cada qual segurando firmemente o seu feixe de lenha.

Olhando para aquele triste quadro, o chefe da equipe de socorro disse:

-“O frio que os matou não foi o frio de fora, mas... o frio de dentro”


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