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sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

O CAMINHO DE VOLTA

Vi a placa de retorno e estou assim, procurando o caminho de volta...

Já estou voltando. 
Só tenho 45 anos e já estou fazendo o caminho de volta. 
Até o ano passado eu ainda estava indo... Indo morar no apartamento mais alto, do prédio mais alto, do bairro mais nobre. 
Indo comprar o carro do ano, a bolsa de marca, a roupa da moda. Claro que para isso, durante o caminho de ida, eu fazia hora extra, fazia serão, fazia dos fins de semana eternas segundas-feiras. Até que um dia, meu filho quase chamou a babá de mãe! 

Mas, com quase cinquenta, eu estava chegando lá. Onde mesmo? 
No que ninguém conseguiu responder. 
Eu imaginei que quando chegasse lá, ia ter uma placa com a palavra "fim". 

Antes dela, avistei a placa de "retorno" e, nela mesmo, dei meia volta. Comprei uma casa no campo (maneira chique de falar, mas ela é no meio do mato mesmo). É longe que só a gota serena! 

Longe do prédio mais alto, do bairro mais chique, do carro mais novo, da hora extra, da babá quase mãe. 
Agora tenho menos dinheiro e mais filho. 
Menos marca e mais tempo. 

E não é que meus pais (que quando eu morava no bairro nobre me visitaram quatro vezes em quatro anos), agora vêm pra cá todo fim de semana? 

E meu filho anda de bicicleta, eu rego as plantas e meu marido descobriu que gosta de cozinhar (principalmente quando os ingredientes vêm da horta que ele mesmo plantou). 

Por aqui, quando chove, a Internet não chega. Fico torcendo que chova, porque é quando meu filho, espontaneamente (por falta do que fazer mesmo), abre um livro e, pasmem, lê. E no que alguém diz: "a internet voltou!", já é tarde demais, porque o livro já está melhor que o Facebook, o Instagram e o Snapchat juntos. 

Aqui se chama "aldeia" e tal qual uma aldeia indígena, vira e mexe eu faço a dança da chuva, o chá com a planta, a rede de cama. 
Aos domingos, converso com os vizinhos. 
Nas segundas, vou trabalhar, contando as horas para voltar... 

Aí eu me lembro da placa "retorno", e acho que nela deveria ter um subtítulo que diz assim: "retorno – última chance de você salvar sua vida!" 
Você, provavelmente, ainda está indo. Não é culpa sua. É culpa do comercial que disse: "Compre um e leve dois". 
Nós, da banda de cá, esperamos sua visita. Porque sim, mais dia menos dia, você também vai querer fazer o caminho de volta..."

CUIDE DO SEU TEMPO, CUIDE DA SUA FAMÍLIA. Que possamos encontrar a “placa de retorno” e valorizar o que realmente é importante!

(Teta Barbosa - jornalista, publicitária e mora no Recife)

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